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A Importância de Monitorizar o Ciclo Menstrual

ciclo menstrual empoderamento literacia corporal método de perceção de fertilidade método do calendário saúde feminina Nov 27, 2021
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...e porque deves começar já!

Certamente, a esmagadora maioria de nós já terá passado por isto: chegar aos 12-14 anos (idade média em que ocorre o primeiro ciclo menstrual), sentarem-nos na cadeira do consultório e receitarem-nos a pílula. Nem sobre outros métodos hormonais nos informam, para nos possibilitar escolha. Não interessa se tens acne, dores incapacitantes, fluxo mais abundante que as Cascatas do Niagara… ou absolutamente nada.

Estás em idade fértil? Já dizia António Variações “toma o comprimido que isso passa” (diz também o médico com a maior poker face de sempre).

Nesse momento, despem-nos do nosso maior dom enquanto mulheres: sermos cíclicas. Posteriormente, dali a uma década e meia (mais coisa, menos coisa), estamos a largar a pílula, de forma desamparada. Não sabemos nada de nada. Não conhecemos o nosso corpo. Estamos atoladas em mitos, desinformação e iliteracia corporal. Portanto, não somos nós que tomamos as nossas decisões; fazem-no por nós. As dores voltam em força, os fluxos parecem barragens destruídas e o acne vem dizer olá, numa idade em que “ter acne” era apenas uma memória longínqua.

 

O Ciclo Menstrual

Primeiramente, enquanto seres biologicamente equipados com ovários, útero e vagina, a nossa função é reproduzir. Contudo, não é esse o objetivo de todas nós e certamente não em determinadas fases de vida. O nosso próprio corpo determina que, por vezes, a nossa saúde é mais importante do que uma possível gravidez. Por isso inibe a ovulação (principal evento do ciclo menstrual) para priorizar outras áreas.

Por outro lado, somos guiadas por um repertório de hormonas que oscila consoante a fase do mês. Elas comunicam entre si de forma complexa e são altamente sensível a fatores internos/externos (problemas de saúde, stress, alimentação ou alterações no quotidiano).

Quando menstruamos pela primeira vez (menarca), toda a gente nos congratula por sermos, agora, mulheres.

Mas ninguém nos ensina o que isso é.

É possível que tenhas ouvido falar na escola sobre as fases do ciclo, o FSH, LH e o eixo HPO. Talvez entre amigas se falasse sobre 'métodos contracetivos' (preservativo, pílula ou método do calendário). Na verdade, ensinam-nos a perpétua teoria de que o ciclo menstrual é fixo: menstruas durante 5-7 dias, ovulas ao 14° dia e no 28° terminas o ciclo com o regresso da menstruação.

O problema é que, ao enraizar esta ideia na cabeça das mulheres, generaliza-se os seus ciclos como iguais. E nós, que pouco aprendemos, ficamos amedrontadas quando o período “atrasa”. Incutem-nos o 'bicho' papão de que podemos engravidar a qualquer momento.

A realidade, com a qual muitas de nós se deparam, é outra. Os ciclos mudam de acordo com a nossa fase de vida (e mesmo a cada mês), contrário à informação padronizada que recebemos. Consequentemente gera-se o horror de um "apêndice" impossível de controlar e mais ainda de entender. Passamos a olhar o ciclo menstrual como um inconveniente (quem nunca pensou "Quem me dera não ter o período!" que atire a primeira pedra).

Esta crença cria, ainda, uma sensação de falsa segurança ao utilizar o “infame” Método do Calendário como escolha contracetiva natural (não-hormonal). Por sua vez, devido à sua baixa taxa de eficácia, afugenta as mulheres do Método de Perceção de Fertilidade⑴, por o assumirem como equivalente.

Desde já, é, então, necessário desconstruir a visão de semelhança entre os métodos.

 

Método do Calendário vs Método de Perceção de Fertilidade

Ainda que muito se acredite na igualdade destes métodos, a sua base é amplamente distinta. Essencialmente, esse é o fator que determina a diferença na taxa de eficácia.

método do calendário é, na verdade, um método também baseado em perceção de fertilidade para fins contracetivos. No entanto, baseia-se na ideia do ciclo menstrual fixado por um padrão: 28-32 dias de ciclo e ovulação entre o 14º-19º dia. Por esse motivo, não contempla irregularidades ocasionais (fruto de diversos fatores) nem fixas.

É vastamente usado apesar da sua baixa taxa de eficácia com uso típico e encontra-se em aplicações que “monitorizam” a fertilidade. Apps estas nas quais tantas mulheres confiam como verdade absoluta.

Hoje sabe-se que a fase do ciclo em que ocorre a ovulação (fase folicular) é variável. Ademais, está dependente de fatores internos e externos que dificultam uma padronização segura.

Já o método de perceção de fertilidade assenta no conhecimento factual dos fatores biológicos e hormonais que constroem o ciclo menstrual da mulher. Observando e registando os chamados biomarcadores, podemos delimitar a janela fértil. Posteriormente, esta permite-nos prevenir ou alcançar uma gravidez de forma natural. A sua taxa de eficácia, com uso perfeito, pode ir até 99% (até <1 gravidez por 100 mulheres num ano). Com uso típico a taxa é de 76%-98% (equivale entre 24 a 2 gravidezes por 100 mulheres num ano).

Alguns exemplos de biomarcadores são a temperatura basal, muco cervical, e níveis da hormona luteinizante (LH).

Juntando-os num gráfico é possível determinar a janela fértil da mulher. Existem outros inúmeros fatores que podes registar no decorrer do ciclo e que te ajudam a entendê-lo melhor (características e duração do sangue menstrual; sintomas associados como dores fortes e sangramento abundante; sensibilidade mamária; alterações na líbido e no humor; padrões de sono;…).

 

Então, porque deves conhecer e monitorizar o teu ciclo menstrual?

Somos cíclicas, o que significa que as nossas hormonas, o nosso ser biológico não são fixos. Variam e dão-nos diferentes energias consoante a altura do mês. O nosso ciclo menstrual é sinal de saúde (geralreprodutora). Quando algo não está bem, os primeiros sintomas refletem-se nele.

Dessa forma, alcançar a literacia do teu corpo cria consciência de todas as alterações que se processam nele (boas e más). Monitorizar o ciclo abre-te porta para entendê-lo melhor do que ninguém: perceber o que é “normal” para ti e o que são desregulações.

Detetar sintomas anormais precocemente ajuda-te a procurar apoio médico antes de o problema se agravar. O corpo dá-nos todos os sinais; tudo o que pede é que o escutemos.

 

Como podes iniciar a jornada de conhecimento do teu corpo?

☾ Arranja um caderno menstrual (algo personalizado por ti) ou utiliza uma aplicação que não faça previsões (aconselhamos a Read Your Body ou a Kindara). Podes ainda usar uma mandala lunar para uma abordagem mais holística. Algumas mulheres sentem-se emocionalmente e espiritualmente influenciadas pelas fases cíclicas da lua).

Regista o teu primeiro dia de ciclo (primeiro dia da menstruação) e observa de forma consciência e diária a forma como te sentes. Quer a nível físico, emocional, mental e espiritual, é importante registares tudo. Regista, ainda, a duração da menstruação e suas características, bem como a duração do ciclo (do 1º dia de menstruação ao dia antes da próxima).

Identifica as variações do teu muco cervical sempre que vais à casa de banho (idealmente 3 vezes ou mais por dia). Como é a textura, consistência e elasticidade? O aspeto do muco varia de mulher para mulher: deves perceber qual o teu padrão.

A temperatura basal dar-te-á muita informação sobre o teu ciclo. Desde se já ovulaste, à duração da fase lútea (pós-ovulação) e possível data de menstruação, ou até se os níveis de progesterona estão, ou não, adequados. Podes considerar adquirir um termómetro basal (específico com duas casas decimais), mas não é obrigatório nesta primeira etapa de monitorização.

Educa-te mais acerca da saúde feminina e do ciclo menstrual à medida que vais conhecendo o teu próprio corpo.

Considera trabalhar com uma instrutora de fertilidade para te apoiar a identificar possíveis problemas de saúde. Se desejas usar o conhecimento do teu corpo como método para prevenir (ou alcançar) uma gravidez, deves fazê-lo acompanhada.

Tens à tua disposição, em ‘Serviços’, o curso Desvenda o teu Ciclo se estás a iniciar a jornada ou o Cosmic Cycles se pretendes prevenir uma gravidez de forma natural e sem efeitos secundários.

Esta é uma jornada maravilhosa de autoconhecimento e empoderamento; de amor próprio e autocuidado. Se escutares o teu corpo, saberás, melhor do que ninguém, aquilo que ele precisa.

 

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‘Método de Perceção de Fertilidade’ é uma designação abrangente de diversos métodos contracetivos baseados na fertilidade do corpo feminino. Para efeitos de clareza, os nossos artigos referir-se-ão ao método de perceção de fertilidade sinto-térmico.
Taxa de eficácia com uso típico de 75% a 88% (equivale entre 25 e 12 gravidezes por 100 mulheres num ano). Para a taxa de eficácia com uso perfeito existe escassez de dados, mas estima-se que poderá rondar os 90%-95% (equivale entre 10 a 5 gravidez(es) por 100 mulheres num ano). Vale salientar que o uso perfeito apenas se aplica a mulheres com ciclos regulares.
Depende do tipo de método de perceção de fertilidade. O método sinto-térmico tem uma taxa de eficácia com uso perfeito de 99% e com uso típico de 96-98%.
Trussel, James. "Contraceptive Failure in the United States" Contraception Journal  83, no. 5 (Maio, 2011): 397-404 in National Institutes of Health (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3638209/ and DOI: https://doi.org/10.1016/j.contraception.2011.01.021) | https://www.nhs.uk/conditions/contraception/how-effective-contraception/?tabname=methods-of-contraception (https://www.contraceptionjournal.org/article/S0010-7824(11)00049-7/fulltext) https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/family-planning-contraception | https://www.acog.org/womens-health/infographics/effectiveness-of-birth-control-methods